sábado, 2 de setembro de 2017

MANOEL JOSÉ LEBRÃO



  . Rua Cândido Mendes , 86 - Glória  


Morador da Glória, bairro que o homenageou dando seu nome a uma de suas pequenas travessas, Manoel José Lebrão (1868 -1933)  foi um dos fundadores da Confeitaria Colombo, símbolo do glamour do Rio da Belle Époque e parte da história desta cidade e do Brasil.

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Há 123 anos, no dia 17 de setembro de 1894, Manoel Lebrão abria, na Rua Gonçalves Dias 32/36, as portas da confeitaria que se transformaria em um dos principais ícones cariocas. Ele foi o mentor, criador, fundador e dono da Colombo, eleita um dos 10 mais belos cafés do mundo.

Nascido no Minho, em Portugal, Lebrão chegou ao Brasil em 1881, aos 13 anos de idade, e iniciou sua trajetória profissional no ramo da pastelaria na Confeitaria Carioca, onde atuou até 1894, quando fundou a Confeitaria Colombo, em sociedade com Joaquim Borges de Meirelles. Sua decoração art nouveau compara-se ao que existe de melhor e mais representativo deste estilo na Europa: reluzentes espelhos belgas, belíssimo mobiliário em jacarandá e bancadas de mármore italiano, decoram esta confeitaria que, desde 1983, está inscrita no Patrimônio Histórico e Artístico do Rio de Janeiro.


Ainda hoje, mantendo sua tradição de bons serviços, a Confeitaria Colombo é um dos atrativos culturais e turísticos mais famosos da Cidade Maravilhosa.

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Honra da casa, a máxima o freguês tem sempre razão foi filosofia ali criada e implantada pelo velho Lebrão. Também por Lebrão a confeitaria foi a primeira a adotar uniforme para funcionários, o quilo, como medida de referência, a primeira a dar férias aos seus funcionários e percentuais dos lucros, além dos salários. Todos os avanços que pudessem melhorar seu negócio, Lebrão observava cuidadosamente. Até inovações de sabores como a omelete que leva tomate, queijo-de-minas e orégano, criação sua.
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" Pai da Roda, Papai Lebrão
era como lhe chamavam
porque esquecia dívidas,
servia doses duplas por doses simples,
ouvia a todos,
contornava discussões e brigas,
pagava o bonde,
emprestava dinheiro e
aceitava como pagamento de contas
anúncios em versos exaltando a Colombo."



Ponto de encontro de escritores, jornalistas, poetas, artistas e políticos e integrada ao cotidiano da cidade, então capital da República, a Confeitaria Colombo era considerada uma extensão da Academia Brasileira de Letras. Era a casa preferida de nomes como Olavo Bilac, Machado de Assis, José do Patrocínio, João do Rio, Chiquinha Gonzaga, Washington Luiz, Epitácio Pessoa, José Lins do Rego, Getúlio Vargas, Heitor Villa Lobos, Juscelino Kubitschek e muitos outros, servindo de palco para inúmeros debates e até mesmo decisões históricas e políticas.

Foi também espaço de recepções memoráveis a visitantes ilustres do Brasil, como o rei Alberto da Bélgica, em 1920, e a rainha Elizabeth da Inglaterra, em 1968, imortalizada na literatura e no cinema nacional, como cenário de diversos livros e filmes, e consagrada na música popular com a famosa marchinha de carnaval “Sassaricando”, sucesso de 1952, na voz da vedete Virgínia Lane, sua frequentadora assídua.

Resultado de imagem para manoel lebrãoLebrão não foi apenas o fundador da Colombo e o maior produtor de marmelos de Teresópolis, cidade onde deixou marcas profundas e é benemérito. Além da Quinta Lebrão, elegante mansão construída com as mesmas linhas de sua casa da aldeia de Sopo, em Portugal, ele foi também o responsável pela construção, naquela cidade serrana, da Escola Higino da Silveira, cujo projeto é réplica do Hospital de Cerveira.


Pelo seu valor como empresário, Manoel Lebrão recebeu diversas homenagens, tanto no Brasil como em Portugal:

- em 2001, uma estátua lhe foi erigida em Vila Nova de Cerveira, em frente ao hospital de Cerveira, na avenida que leva seu nome;

- ele também empresta seu nome à Travessa Manoel Lebrão, na Glória, bairro onde foi nosso vizinho ilustre, à Rua Cândido Mendes , 86.


e à Rua Manoel José Lebrãoem Teresópolis;

- foi um dos benfeitores do Real Gabinete Português de Leitura no RJ;

- a empresa de Lebrão foi uma das primeiras empresas a apoiar a criação da Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria, criada em 1867, e um dos maiores financiadores da Santa Casa de Misericórdia.

Quando saiu do empreendimento, Manoel Lebrão deixou a Confeitaria Colombo nas mãos de Eloy José Jorge, sobrinho de Meirelles e mais dois sócios, ex-funcionários, que tocaram o negócio adiante e ampliaram o sucesso.


5 comentários:

Ana Maria disse...

Charmosíssima Colombo, com seu piano de meia cauda no segundo andar e o pianista que, com sua música, encantava a todos os que lá frequentavam. Eram servidos os melhores salgados e doces da Cidade. Ah, quantas delícias! As coxinhas e camarões empanados, as maravilhas, os delicados sanduíches de queijo e presunto, as barquetes de uva, os brigadeiros, os sorvetes Primavera e Banana Real, e tantas inesquecíveis iguarias mais. E o charme do chá... Encontrar as amigas para o chá na Colombo era sinônimo de uma tarde alegre, elegante e em clima de confraternização. Saudade!...
Ninguém melhor do que você, Beth, pesquisadora e profunda conhecedora da história da Confeitaria Colombo, para relembrar no blog esse autêntico marco da vida carioca.

Nossos Vizinhos ILustres disse...

Querida Ana, obrigada pelo comentário. Suas lembranças das delícias são também meus sabores inesquecíveis. Que tempo, não? Trazer a Colombo à tona é trazer à memória momentos e um tempo muito especiais.
Muito boa essa saudade!

Bjs,
Beth

Unknown disse...

Ainda hoje comentava sobre ele, um parente que não conheci, mas que me deixa muito honrada em carregar o sobrenome.

Unknown disse...

Sou natural da terra natal de Manoel José Lebrão.
Este ilustre Cerveirense foi apenas o maior benemérito que Cerveira alguma vez teve.
É pena não ser devidamente reconhecido.
Apesar de tudo curvo-me perante a sua figura e tenho o enorme prazer de ter nascido na mesma rua e lugar onde Lebrão nasceu, isto é, a cerca de 150 metros da sua casa.
Lebrão merecia uma homenagem em Portugal digna de um estadista.
Quem sabe se um dia não publicarei uma obra em sua homenagem...
Mesmo em todo o Alto-Minho, que aliás conheço muito bem, estou convencido que este grande Português era igualmente um grande homem apesar da sua pequwna estatura.
Se fosse Lisboeta já teria sido condecorado a título póstumo pela presidência da república e bem merecia uma comenda deste quilate.
Assim é mais um português esquecido deste país à beira-mar plantado.
Tenho um orgulho enorme, para não dizer fascínio e até vaidade, por este grande Homem de coracão enorme e de uma genorosidade sem precedentes.
Muito obrigado, pois, a Manoel José Lebrão por ter tido a oportunidade de lhe dizer algumas palavras que me vão na alma.
Quem sabe se um dia alguém me apoiará a elevar até ao firmamento a verdadeira obra e o enorme amor ao solo pátrio deste Senhor
que morreu cedo demais aos sessenta e poucos anos, mas que apesar de tudo deixou aos vindouros um património social inimaginável.
Manuel Soares

Valério Barreto Santos (RJ) disse...

Sou morador da rua Cândido Mendes e acabei descobrindo que ele realmente morou nas proximidades, difícil saber hoje onde ficaria esse número 86.